OSTROGORSKI

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Escolha de um Recurso Educacional Aberto

No âmbito do 1º Curso de Formação em e-Learning para docentes da Universidade Técnica de Lisboa, que é, afinal, a principal razão de ser da existência deste blogue, espera-se a inserção de um 2º post/mensagem com os seguintes objectivos:
1. selecção de 1 REA/OER (Recurso Educacional Aberto) (o quê?)
2. indicação do modo como seria usado (o Como?)
3. um conjunto de 4 ou 5 critérios, explicitados e fundamentados, que presidiram à sua escolha (o Porquê? da questão).

A grande dificuldade aqui reside, precisamente e desde logo, na escolha do REA. As opções são várias e todas, de uma maneira ou de outra, muito interessantes.
De facto, desde o vídeo ao power point, passando pelos diagramas, pelas animações, pelos mapas ou pelos open source digital textbooks, a dificuldade na opção a fazer é grande.

Vantagens e desvantagens todos terão, de um modo ou de outro.
Do mesmo modo, também os alunos (a quem, em primeira análise esta opção se dirige) terão preferências por uns ou por outros. Além disso, há que contar, igualmente, com a possibilidade de que a opção não produza os resultados inicialmente esperados.

Mas, ainda assim, e apesar de ter um particular fascínio pelo contributo que os vídeos podem proporcionar, e respondendo, desde logo, às questões:

1. Em resposta ao o quê?: há um recurso educacional aberto que, na sequência das iniciativas de Open Course Ware, me suscita uma atenção especial: os Open Source Digital Textbooks.

2. Quanto ao Como seria usado?: não apenas como uma obra de referência e suporte ao conhecimento, à preparação, problematização e reflexão das matérias objecto de ensino, também como instrumentos de trabalho, dotados da versatilidade associada à sua disponibilização em versão integral à distância de um clic.

3. Quanto ao porquê? da escolha, a que acrescentaríamos, igualmente, um para quê? por considerarmos que estão interligados e se justifica considerá-los conjuntamente: as razões passíveis de ser consideradas são várias:

a) A existência de Open Source Digital Textbooks permite pensar numa grande diversidade de material de apoio/suporte quer à preparação de aulas, quer ao desenvolvimento de actividades conexas bem como ao auto-estudo dos alunos, facilmente disponível e ao alcance de todos, pelo menos em termos potenciais. Além disso, estes contariam com o acesso a recursos que, no limite, poderão não estar sequer disponíveis no mercado - quer pela sua raridade, pelo desinteresse dos editores, pela fraca rentabilidade comercial potencial (associada, por exemplo, quer a um desconhecimento/escasso conhecimento da sua existência que, por sua vez, podia decorrer da sua indisponibilidade no mercado...)-, a um custo praticamente inexistente (sobretudo quando comparamos esta opção com os custos de aquisição de livros em papel).
Neste contexto, aproveitamos para partilhar com os nossos leitores o facto de que, connosco, enquanto nos encontrávamos a desenvolver a investigação para a nossa tese de doutoramento, fomos bafejados pela "sorte" e beneficiámos, precisamente, da existência de Open Source Digital Textbooks, e por isso tivémos acesso a informação que não encontrámos disponível sob a forma "clássica", "tradicional" - em papel. E com a particularidade de serem (pelo menos daquilo que é do nosso conhecimento - e procurámos em sucessivos índexes, de diversa natureza/origem) precisamente inexistentes sob a forma física - pelo menos acessíveis para consulta/aquisição.
Além disso, este recurso aberto poderia ser utilizado em articulação com outro tipo de REAs como os vídeos, os power points e os mapas (de preferência de vários tipos - político, militar e económico -, bem como em formato planisfério e por continente), disponíveis em várias datas historicamente relevantes até à contemporâneidade (o momento actual) porque, no âmbito das cadeiras que leccionamos, e ao optar pela sua reestruturação (o que provavelmente faremos na sequência deste curso) era aquilo que faria mais sentido;

b) E por falar em papel, outra das razões pela opção por este recurso educacional aberto passa pela poupança de recursos - materiais (custo dos livros "clássicos") e naturais (gastos de papel, toner, electricidade, desgaste da máquinas, poluição) - mas, sobretudo pela versatilidade e facilidade de utilização, manuseamento e pesquisa. Além disso, a gestão dos conteúdos - nomeadamente no que se refere à actualização -, das tarefas/actividades, e também do espaço físico necessário para comportar os suportes físicos do conhecimento (os livros e documentos na forma clássica) são igualmente critérios a considerar nesta opção. A possibilidade de ter acesso on-line aos conteúdos que são necessários à gestão de cada plano de aula, permite-nos ainda pensar na necessidade de existir apenas um computador ligado a um sistema de data show integrado e complementado por uma ligação à internet, por exemplo - o que é extremamente versátil;

c) Outra das razões que considero de grande relevância, é a possibilidade de, através da aposta neste REA podermos passar a ter acesso a documentos escritos que, em alguns casos, não existiam senão na sua língua original e que, pela dificuldade no domínio e compreensão da mesma - e por não existirem traduções noutras línguas, nomeadamente no inglês - acabavam por ser totalmente desconhecidos ou, pelo menos, negligenciados. Do mesmo modo, podemos desenvolver idêntico raciocínio para o tipo de conteúdos. Estou a lembrar-me, por exemplo,
do caso que anteriormente invoquei: era um livro que explorava o tema do "Governo Global" de um modo extremamente aprofundado e muito interessante. Não existia sob a forma física, e não o encontrei referenciado em qualquer catálogo de editor/livreiro pelo que, sem a existência e o acesso facilitado a este REA não me teria sido possível ter acesso a ele - e os alunos serão, certamente, beneficiados por situações em que se repetirão este tipo de ocorrências;

d) Outra das razões para esta escolha está, assim, directamente relacionada com a inovação, com a vanguarda no conhecimento daquilo que de mais recente, actual, pertinente e inovador se está a fazer na área em que leccionamos. De facto, o timing que, usualmente, medeia a produção de conhecimento e a publicação do mesmo, particularmente num contexto internacional como é aquele em que actualmente estamos inseridos é, genericamente, incomportável com o avanço da ciência. Assim, quando os livros chegam aos seus destinatários, sob a forma clássica (e salvo honrosas excepções - mas que não deixam de ser isso mesmo) já estão ultrapassados/desactualizados. Neste contexto, a facilidade com que é possível garantir e efectuar a actualização destes REA constitui, outro dos critérios que influencia a aposta nesta opção;

e) O custo do acesso a este REA não deixa de ser um critério importante a ter em consideração nesta escolha. O facto de os custos de educação a serem suportados pelos discentes ter um peso muito significativo (pelo menos em muitos casos) nos orçamentos familiares acaba por suscitar da parte do docente, a busca de soluções alternativas aos livros e às fotocópias, que acabam por contribuir para agudizar as dificuldades já de si complexas e difíceis de ultrapassar. Além disso, uma Unidade Curricular (UC) dificilmente tem como referência apenas uma obra. Antes pelo contrário.
E com o sistema de Bolonha a situação passou a agudizar-se na medida em que se prevê que cerca de 3/4 do trabalho total de cada UC passe a ser, sobretudo, do próprio aluno. Uma vez que o docente deve formá-lo para as "competências".

Assim sendo, e seguindo a tendência das tendências contingenciais da conjuntura em que vivemos e desenvolvemos a nossa actividade, não apenas as práticas já concretizadas por Universidades como o MIT (Open Course Ware) mas também as Open Source Digital Textbooks tenderão a fazer parte da nossa realidade real, mas em paralelo com a virtual.

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3 Comentários:

Blogger Susana Santos disse...

Sandra,
Achei o recurso que escolheu e a sua exposição muito interessantes, mas será que todas as vantagens que enuncia, com as quais concordo, de uma maneira geral, compensam o prazer de ver a lombada de um livro em papel na estante, por trás da moldura com o retrato de família; ou de o sentir quando estamos sentados naquele sofá, de que tanto gostamos, ao pé da janela, numa tarde de chuva; ou mesmo, de sentir o seu cheiro?
SSantos

13 de maio de 2009 às 06:15  
Blogger José Mota disse...

@ Susana Uma coisa não exclui a outra. A questão importante e que a Sandra, aliás, enfatiza, é que muitos desses recursos não estão acessíveis de outra forma (custos, publicação, distribuição, etc.). São, assim, uma adição fundamental em termos do acesso a informação e conhecimento, não uma substituição do que existe.

21 de maio de 2009 às 06:41  
Blogger Sandra B disse...

Caríssimos Susana e José,

Muito obrigada pelo comentário de ambos, com os quais aliás concordo.
Confesso que também eu sou uma "livromaníaca" e aprecio-os muito, sobretudo na sua forma física, principalmente quando encontramos um daqueles exemplares que achamos que nunca seria possível encontrarmos disponível para o manusearmos...
Mas, como disse o José, o facto é que, em muitos casos, não há como ter acesso à informação a não ser na sua forma digital. E, no meu caso, como disse, ao desenvolver a minha tese de doutoramento fui confrontada com tal facto.
Mais acrescento: agora que penso mais seriamente no assunto, já quando desenvolvi a pesquisa sobre o pensamento de Moisei Ostrogorski, para o Mestrado, tal se verificou... Não propriamente sob a forma de e-book, mas sob a forma de manuscritos microfilmados - o que, a bem da verdade, também não são documentos físicos.
Apenas pude ter acesso aos seus conteúdos porque alguém havia tido o trabalho de preservar o conteúdo dos documentos sob a sua forma física, impedindo desse modo que ele se perdesse...

Sandra

16 de junho de 2009 às 10:13  

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